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  • Foto do escritorGislene Ramos

FEMINISMO DE BANHEIRO - Quem vai limpar?

Empodere-se! Sororidade, irmã! Você é forte, mulher! Se ame! Frases de comuns entre feministas, mulheres que lutam por direitos iguais, melhores condições de vida, dignidade, respeito e liberdade. É a luta do Feminismo!


Foto: Carla Galrão

E tem sido comum ler essas mensagens de empoderamento nas portas de banheiros femininos, públicos e privados, de universidades, casas de shows, entre outros espaços.


Mulheres frequentam o banheiro, certo? Mulheres vão ler aquelas mensagens, certo? Mulheres empoderando mulheres certo? Nem sempre! Acontece é que mulheres, em sua maioria negra, é que irão limpar muitos desses banheiros.


Domingas Santos / Foto: Carla Galrão


VAMOS NOS ESCUTAR – Conversando com diversas mulheres, buscamos escutar e propor o cruzamento de opiniões sobre tais escritos de banheiro.


Da mulher que escreve. Da mulher que lê. Da mulher que limpa! Opiniões diferentes. Práticas diferentes. Pois o que para umas são mensagens positivas. Para outras, pode ser apenas mais um trabalho a mais antes de voltar pra casa cansada.


A fotógrafa Sandra Travassos encara os escritos como uma forma de mostrar que as mulheres estão ocupando os espaços e que não estão se calando. Mas quando questionada sobre quem vai limpar aqueles escritos, ela comenta: “Eu admito que nunca tinha pensado nisso. Acredito que elas limpam porque é obrigação delas, até porque trabalham com limpeza. Eu, no lugar delas, não limparia!”. Para ela, as mensagens servem para melhorar a autoestima de todas as mulheres.


Estudante de psicologia, Thaise, conta que também percebe de forma positiva os escritos politizados na Faculdade de São Lázaro da UFBA. Mas confessa nunca ter parado pra refletir que em sua maioria é uma mulher negra que tem que limpar. “Morando fora do Brasil percebi que nos banheiros, sempre eram mulheres negras que trabalhavam ali e eu me perguntava o porquê delas estarem naquela condição”, comenta.


Com olhares positivos para os escritos feministas de banheiro, a advogada Lara, perguntaria para mulheres que limpam como elas se sentem apagando mensagens que tão empoderadoras “Eu gostaria de perguntar como elas se sentem ao ler e também apagar frases que poderiam ajudar meu dia melhorar, a me sentir melhor”.


Geofísica, Rebeca Thaís, acha interessante até certo ponto, pois depende do espaço e a quem se quer atingir. “Porque nem sempre o seu recado vai chegar em quem quer que alcance. Às vezes aquela mulher que vai limpar lida muito mais como um trabalho do que como uma frase de fortalecimento”.


A cantora e feminista negra, Aline Lobo, vê problemas na prática, “São interessante as frases, mas ao mesmo tempo isso reflete um feminismo concentrado na porção branca da população. A galera quando escreve não faz a conexão de que é uma mulher negra que vai limpar aquilo e que talvez nem pense naquilo que tá escrito”, explica.


Rosimeire Santana / Foto: Carla Galrão

Eu gostaria de perguntar por que elas escrevem isso?, questiona Rosimeire Santana, trabalha com serviços gerais em uma casa de show em Salvador. “Elas não pensam na pessoa que limpa. Porque não se preocupa com o próximo. Ela pode até pensar no próximo a ela, mas não no próximo que vai limpar”, afirma.


Apesar de respeitar a forma de pensar de cada pessoa, Domingas Santos, também serviços gerais, conta o que acha dos escritos. “Geralmente sujam os espelhos, que são fáceis de limpar. Agora quando riscam as paredes é bem complicado pra tirar, é cansativo”, conta.


RECADO A QUEM ESCREVE – “Vão sujar as suas casas! Porque ao invés de curtir a festa, dão mais trabalho pra mim e pra outras também. Para mim, é só uma sujeira que vou ter que limpar, ou tentar limpar”, conta Domingas, ao perguntar o que ela diria para as mulheres que escrevem.

Foto: Carla Galrão

“Eu gostaria de perguntar se elas fazem isso nas casas delas, nos banheiros. E sobre o que é Feminismo, eu nem tenho muito que dizer, porque eu nem tenho tempo pra ficar pensando em muita coisa, mas respeito a forma de pensar e agir de todo mundo”, complementa Domingas.


Se a mensagem de empoderamento chega até quem limpa? Rosimeire é categórica sobre a prática: “Essas mensagens pra mim tanto faz, se lê ou não lê, pra mim não significa nada, e eu que vou ter que limpar. Não muda nada!”.

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